Respeito é bom e todo mundo gosta. Mas valores antigos, ensinados
desde o berço, parecem hoje esquecidos. Mães que trabalham em dois ou três
turnos, e ainda têm que arcar com os afazeres domésticos, pais que chegam em
casa estafados, aborrecidos, não têm mais tempo para os filhos, vizinhos e
amigos, para a cordialidade da convivência.
Palavras do tipo por favor, muito obrigado, com licença, me
desculpe, sumiram do nosso vocabulário, se esvaziaram, caíram em desuso. Tudo
se resolve mesmo é na base da indelicadeza. E põe indelicadeza nisso! E a
descortesia se alastra nos lares, nos locais de trabalho, nas escolas, nas
ruas.
Como nossas crianças vão
aprender hábitos saudáveis de convivência, se não há modelos a imitar? Faltam
valores importantes no nosso mundo de economia acelerada.
O escritor Rubem Alves
costuma nos dar lições de extrema profundidade, a partir de fatos simples do
nosso dia a dia.
Ele nos ensina, por exemplo, a lição da subtração: precisamos
subtrair em nós tudo aquilo que nos torna pesados, sem a necessária leveza que
nos impede de voar longe e alto. Nossa preocupação exacerbada com teres e
haveres, o furor no trabalho, o apetite desenfreado pela comida, pela bebida,
pelo exercício do poder. Subtraindo todas as correntes que nos mantêm
atados, pode ser que nos sobre tempo para o exercício da sabedoria.
Pois é isso o que ele nos prescreve; O remédio da sabedoria, "a arte de
reconhecer e degustar a alegria". Alegria que se nos apresenta
diariamente, disfarçada nos menores gestos: dispor as flores num vaso, servir a
sopa, orientar o filho com a tarefa escolar, trocar dois dedos de prosa com o
vizinho ou, simplesmente, assistir o sol se pondo no horizonte.
Queixamo-nos da violência que nos cerca por todos os lados. E mal percebemos
nossa cota de responsabilidade nisso tudo. Nós que desaprendemos a arte da
sabedoria, do respeito, da delicadeza compartilhada. Ainda é Rubem Alves quem
nos adverte: a multiplicidade (compromissos, tarefas inadiáveis, programas
extras) nos devora, nos priva do tempo necessário para demorar o olhar no
outro, nas coisas que nos rodeiam, de descobrir, nas banalidades do dia-a-dia a
urgência daquilo que importa: nossa essencialidade humana.
É tempo de parar, repensar e transformar. Nossos gestos diários precisam
receber urgentemente um tratamento novo, a marca do respeito, da delicadeza, da
civilidade. Busquemos a sabedoria de que nos fala Rubem Alves. Apliquemo-nos ao
exercício cotidiano da delicadeza. É bem provável que, assim, a violência
comece a diminuir nos lares, nos locais de trabalho, nas escolas. E se instale,
aos poucos, o respeito. Pois respeito é bom, e todo mundo gosta. E o prezado
leitor pode até perguntar: Será possível, então, um triunfo no amor?
"Sim. Mas ele não
se encontra no final do caminho, não na partida, não na chegada, mas na
travessia".
Um bom dia e boa semana à você!
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